A tragédia berbere
Pedro Fortes - nº 16
A sobrevivência dos camponeses berberes que habitam a planície de Souss (quase 3 milhões de habitantes) está diretamente ligada ao cultivo da argânia, uma árvore que serve como barreira à desertificação. Desde 1925, uma lei nacional garante o direito do uso desse recurso através da agricultura familiar. Com o rápido crescimento da globalização, muitas empresas multinacionais buscaram conquistar novos mercados consumidores, e Marrocos não foi exceção. O Estado marroquino, movido por políticas agrícolas de integração na economia mundial, direcionou sua atenção para a cultura comercial e a exportação, deixando de lado a agricultura familiar dos camponeses berberes. Sob tutela do FMI, foram estabelecidos acordos de livre-mercado com a União Europeia, o que causou a redução dos gastos estatais na agricultura e a privatização de parte das terras. Em 2001, a maior parte dos investimentos públicos na agricultura eram direcionados para projetos de irrigação (grandes obras de controle hidráulico) em prol absoluto das grandes fazendas e dos grandes exportadores. Consequentemente, os pequenos agricultores berberes sofrem com terras estéreis e colheitas fracas. Sem condições de se manterem, são obrigados a trabalhar para as grandes fazendas, onde não há carteira assinada ou compromisso com salários em dia. Protestos por parte dos explorados são comuns, assim como a inquietação de representantes sindicais com a precariedade dos alojamentos. Um resultado claro e alarmante da exploração descontrolada do cultivo de argânia por parte de multinacionais é o sucesso crescente do óleo de argan entre empresas de cosméticos, direcionando a planície de Souss a uma potencial desertificação.