A sistematização da geografia
A especificidade da situação histórica da Alemanha, no início do século XIX, época que se dá a eclosão da Geografia, está no caráter tardio da penetração das relações capitalistas nesse país. Na verdade, o país não existe enquanto tal, pois ainda não se constituiu como Estado Nacional. A Alemanha de então é um aglomerado de feudos (ducados, principados, reinos) cuja única ligação reside em alguns traços culturais comuns. Inexistente qualquer unidade econômica ou política, a primeira começando a se formar no decorrer do século XIX, a segunda só se efetivando em 1870, com a unificação nacional. Assim, a Alemanha não conhece a monarquia absoluta (forma de governo própria do período de transição), nem qualquer outro tipo de governo centralizado. O poder está nas mãos dos proprietários de terras, sendo absoluto e a nível local – a estrutura feudal permanece intacta. É neste quadro que as relações capitalistas vão penetrar, sem romper (ao contrário, conciliando) com a ordem vigente. Tal penetração vai produzir um arranjo singular, aquilo que já foi chamado por alguns autores de “feudalismo modernizado”. Isto é, um relativo desenvolvimento do capitalismo, engendrado por agentes sociais próprios do feudalismo – a aristocracia agrária; uma transformação econômica, que se opera sem alterar a estrutura do poder existente.
O capitalismo penetra no quadro agrário alemão sem alterar a estrutura fundiária. A propriedade da terra, origem de todo o poder, permanece nas mãos dos elementos pré-capitalistas. Estes se tornam capitalistas, pela destinação dada à produção: o latifúndio, que possuía uma economia fechada, de autoconsumo, passa a produzir para um mercado. Entretanto, as relações de trabalho não se alteram - a servidão (forma de relação de trabalho típica do feudalismo) permanece como base de toda a produção. Assim, mesclam-se elementos tipicamente feudais com outros próprios do capitalismo: produção para o mercado, com