a revolução dos bichos
Como não pretendo abordar o tema da consistência, sexta proposta, que nunca chegou a ser escrita, chego à última qualidade linguística explicitada por Calvino. A multiplicidade trata “o romance contemporâneo como enciclopédia, como método de conhecimento, e principalmente como rede de conexões entre os fatos, entre as pessoas, entre as coisas do mundo” (p. 121).
Há pouco para falar a respeito do conceito de multiplicidade; tudo se resume ao fato de que o autor precisa se preocupar em dialogar também com a intelectualidade do leitor, ou seja, transmitir novas informações ou conhecimentos gerais por meio da literariedade, fazendo com que a narrativa fictícia possa ser vista, sobretudo, como texto de informação, de onde o leitor poderá absorver certo conteúdo didático. Não é muito comum que a multiplicidade fique explícita no texto, como se houvesse uma seta em néon com a inscrição: “Aqui tem informação”. No conto de Lisboa, por exemplo, o maior exemplo de multiplicidade é com relação ao tema do sacrifício. O leitor, leigo em medicina veterinária, passa a compreender, a partir da leitura do conto, que um cavalo (no caso, uma égua) ou outro animal de grande porte, quando fratura um de seus membros, é geralmente sacrificado, uma vez que os cuidados e a atenção dispensada ao animal durante o tratamento é intensa, e o animal jamais voltará a caminhar ou correr de modo normal. Além desse aspecto, revelo outros casos de multiplicidade no conto:
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Entrepalavras - ISSN 2237-6321
Entrepalavras, Fortaleza - ano 2, v.2, n. esp., p. 167-190, jan/jul 2012
(33) Equuscaballus. Homo sapiens sapiens
(34) Palimpsesto: cidade, homem que vai ser pai, medo de ser homem e de ser pai
Encaro a sentença (33) como um exemplo de conhecimento de biologia: ensina ao leitor o nome científico da égua e do ser humano; e na (34), há uma ampliação do vocabulário e, ao mesmo tempo, uma breve aula de história: a metáfora de uma coisa