A Revolta da Vacina
“Já José Murilo de Carvalho argumenta que o que se viu em 1904 foi a ‘revolta fragmentada de uma sociedade fragmentada’. Em outras palavras, Carvalho procura especificar os motivos que teriam levado aos protestos, enfatizando menos o sentido mais geral de resistência ao processo de aburguesamento salientado por Sevcenko. Assim, havia setores sociais, interesses e insatisfações várias que se teriam articulado de forma complexa e contraditória nos eventos que conduziram à revolta. Após procurar relativizar a importância de uma série de fatores habitualmente apontados como fundamentais na eclosão do movimento – como a insatisfação gerada por dificuldades econômicas, ou pelas transformações urbanas radicais por que passava a cidade naquela quadra -, o autor identifica aquilo que seria o tema comum aos diversos grupos e setores sociais envolvidos nos distúrbios: haveria uma ‘justificativa moral’ para a revolta. Segundo ele, ‘No que se refere ao povo, a parte que nos interessa aqui de modo especial, a oposição adquiriu aos poucos caráter moralista [...] Buscou-se então explorar a idéia da invasão do lar e da ofensa à honra do chefe de família ausente ao se obrigarem suas filhas e mulher a se desnudarem perante estranhos. A expressão ‘messalina’ usada por Vicente de Souza na reunião do Centro deve ter tido efeito devastador.’ (p.131).” ii. Crítica à hipótese de José Murilo de Carvalho: (p.100)
“O apoio documental para tal afirmação consiste no conteúdo de discursos proferidos por políticos influenciados pelo positivismo a platéias de operários organizados em associações ou sindicatos – o ‘Centro’ do trecho citado era o Centro das Classes Operárias. Mesmo se houvesse uma demonstração cabal de que aqueles operários específicos compartilhavam o sentido de terrorismo moral presente na fala de Souza, e se colocassem em pé de guerra