A revista Rock Brigade e a construção da identidade do fã de heavy metal
1 Justificativa
Os limites territoriais são cada vez mais tênues diante das transformações que o mundo vem atravessando nas últimas décadas. A disseminação de manifestações culturais e de formas de entretenimento já não conhece mais fronteiras geográficas e, em diferentes países, grupos de afinidades podem se constituir partilhando preferências e gostos comuns.
O desenvolvimento das tecnologias de comunicação aproximou as pessoas, possibilitando, conforme observado por Ortiz (1994), a configuração de uma “cultura mundializada”, livre de amarras territoriais. Essa ligação comum, ressalva o autor, não é sinônimo de homogeneização total. Ainda há espaço para a diversidade. A formação de microgrupos, que servem de espaço para partilha de valores, sentimentos e experiências comuns, já foi identificada e batizada de neotribalismo por Maffesoli (1998). Uma das formas visíveis dessa partilha, em especial entre o público jovem, é a aglutinação em torno de determinados estilos musicais, como é o caso do rock and roll, ou simplesmente rock, e seus variados subgêneros:
“O rock sempre foi um amálgama que uniu os jovens em torno do discurso da música e promoveu a identificação e a confraternização das tribos através dos significados que permeiam as canções, permitindo o auto-reconhecimento dos membros” (Brandini, 2004, p.13) Dentro das chamadas tribos musicais, a que nos interessa neste estudo é a do heavy metal, subgênero do rock caracterizado, do ponto de vista musical, por uma sonoridade agressiva, construída por guitarras altas e distorcidas, e, sob o aspecto lírico, por temas relacionados à fantasia, rebeldia, violência ou misticismo (LEÃO, 1997). Mas o heavy metal não se limita à dimensão musical. Esse subgênero do rock conta com códigos visuais, verbais e sociais que lhe conferem características de um estilo próprio, permitindo que seus apreciadores se identifiquem como parte de um