A presennça de eros na lírica romantica (cid seixas)
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DA PRESENÇA DE EROS NA LÍRICA ROMÂNTICACid Seixas
Em outros termos, a transferência não é nada de real no sujeito, senão a aparição, num momento de estagnação da dialética analítica, dos modos permanentes segundo os quais ele constitui seus objetos. Jacques Lacan O Romantismo, conforme o lugar comum, não é apenas um movimento literário ou artístico — exaurido pelo advento do Realismo — mas um estado de espírito e um projeto de vida que caracterizam a primeira metade do século XIX e, intempestivamente, são flagrados na ideologia do homem que anuncia o ano dois mil. Oriundos das radicais transformações sofridas pelas relações econômicas da sociedade, a prática e o pensamento românticos inauguraram uma nova cultura, contendo traços característicos entre si contraditórios. É neste jogo de contradições que tem lugar a lírica de Castro Alves, onde a energia de Eros triunfa sobre a estagnação depressiva do caráter romântico. 2. No dizer de Karl Mannheim, “o Romantismo expressa os sentimentos dos descontentes com as novas estruturas”,[1] lamentando suspiros e rimas a nobreza, que perdeu a hegemonia, e a pequena burguesia, ansiosa pela ascensão econômica e social. Daí, a melancolia saudosista e o quixotismo reivindicante, fortemente marcados pela impotência do espírito contemplativo. 3. A moral sexual dessa cultura, rasgada por contradições e conflitos, se ressente da tensão entre o delírio fantasioso do desejo e a expiação obsessiva de culpas imaginárias. O homem, incendiado pela ânsia de vida e amor se proíbe a plenitude dessa experiência, recusando à mulher a condição de parceira na procura lúdica. Só é considerada merecedora do amor romântico a virgem de pureza passiva, enquanto a mulher que não se deixa vencer pelo bloqueio da libido poderá ser, apenas, objeto de desejo, saciado no fogo infernal do desprezo e da condenação moral romântica.