A política cap 4
Capítulo 1
Quando se quer inquirir, com o devido cuidado, qual é o maior governo, forçosamente deve-se começar por expor o gênero de vida que se há de preferir a todos os demais.
Como julgamos ter falado bastante, nos nossos livros exotéricos, do gênero da vida perfeita, agora só nos falta fazer a aplicação dos nossos princípios. Ninguém contestaria que os bens que se podem fruir, dividindo-se de fato de uma só maneira, bens exteriores, bens do corpo e bens da alma, o homem verdadeiramente feliz deve reuni-los todos.
Por pouca virtude que se tenha, sempre se acredita tê-la bastante; mas em questão de riqueza, bens, poder, gloria e todas as outras coisas deste gênero, os homens não sabem impor um limite aos seus desejos. A observação dos fatos facilmente demonstra que se podem adquirir e conservar as virtudes, e que a felicidade da vida, coloquem-na os homens no prazer ou na virtude, ou em ambas as coisas.
É fácil ainda disso se convencer, consultando-se apenas a razão, porque os bens exteriores têm os seus limites. Dá-se o contrario com os bens da alma; mais sejam possuídos, mais utilidade deles se tirará se, contudo, se deve contar com o útil para algo, quando se compara com a honestidade.
Convenhamos, pois, que para o homem não existe maior felicidade que a virtude e a razão, e que, ao mesmo tempo , por isso ele deve regular a sua conduta. Disso temos por fiador o próprio Deus, cuja felicidade não depende de nenhum bem exterior, mas de si próprio da sua essência e da sua infinita perfeição. Uma consequência baseada nas mesmas razões é ser o Estado perfeito ao mesmo tempo feliz e próspero. Ora, na sociedade civil, a coragem, a justiça, a razão produzem, sob a mesma forma, o mesmo efeito que no individuo, do qual elas fazem um homem justo, sensato e prudente.
Concluamos somente que a vida perfeita, para o cidadão em particular e para o Estado em geral, é aquela que acrescenta a virtude muitos bens exteriores para poder fazer o que a virtude