A poesia como salvação da obra de Mario Quintana
Tatiana Vieira de Lima
Considerações iniciais
Com o advento da Revolução Industrial, iniciada no final do século XVIII, mudou significativamente a maneira de organização das sociedades no mundo todo. A paisagem rural cedeu espaço para os centros urbanos; as fábricas, com suas máquinas, substituíram gradativamente o trabalho manual; o produto, único e irrepetível, produzido nas oficinas agora não tinha mais o mesmo valor diante da produção em série; o artesão transformou-se em operário, mão-de-obra barata, compondo a classe social dominada pela burguesia, neste período.
Nesse novo cenário social, político e econômico, era de se esperar que o conceito de arte também mudasse e entrasse em crise. Esse processo de crise da arte fez com que o poema deixasse de ser produto da inspiração, um dom divino, privilégio de apenas alguns. Os poetas passaram a questionar-se quanto a sua função e, nesse questionamento, a construir-se operando com as funções poética e metalingüística1; enfim, o poema perdeu sua “aura” (CHALHUB, 1988, p. 43).
O poema teve sua construção dessacralizada, exposta, desnudada; passou a questionar-se em relação ao instrumento de sua criação: a linguagem poética.
Entre os poetas brasileiros, a reflexão metalingüística é uma marca recorrente em distintas épocas, sobretudo a partir do Modernismo, movimento que agrupou artesãos da linguagem do porte de Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Mário Quintana, entre muitos outros.
Esse trabalho tem como foco a discussão do processo metalingüístico em Mário Quintana, através da análise de alguns de seus metapoemas, voltados para a relação poesia/vida/salvação.
2 A Poesia de Quintana: a metalinguagem traduzindo os movimentos da vida
No poema “Emergência”, publicado no livro Apontamentos de história sobrenatural (1976), Mário Quintana (2006, p.386) relaciona ritmo e respiração como elementos fundamentais ao texto poético e sua funcionalidade no corpo