A personagem no teatro
As semelhanças entre o romance e a peça de teatro são óbvias: ambas narram uma história, mas no romance essa história se dá pela narração (presença do narrador), e no teatro, pela atuação (presença dos atores).
No romance, a personagem é um elemento entre vários outros, ainda que seja o principal. No teatro, as personagens constituem praticamente a totalidade da obra: nada existe a não ser através delas.
Tanto o romance como o teatro falam do homem – mas o teatro o faz através do próprio homem, da presença viva e carnal do ator.
A personagem no teatro dirige-se ao público, dispensando o narrador. O narrador, por excelência, talvez seja o dominante no romance do século 19, o narrador impessoal, pretensamente objetivo, que se comporta como um verdadeiro Deus, não só por tertirado as personagens do nada no sentido de se anular, desaparecer dentro dela. Há personagens autônomos ou realistas, dentro de um quadro teatral não realista, entre uma coisa e outra insinua-se com facilidade o pensamento do autor.
A obra literária é um prolongamento do autor, uma objetivação do que ele sente possuir de mais íntimo e pessoal. A personagem constitui um paradoxo, porque essa criatura nascida da imaginação do romancista ou do dramaturgo só começa a viver, só adquire existência artística, quando se liberta de qualquer tutela, quando toma em mãos as rédeas de seu próprio destino: o espantoso de toda criação dramática – em oposição à lírica – é que o autêntico criador não se reconhece na personagem que deu origem. Quando chega ao palco, a personagem perde de vez o fio que a conecta com o seu criador.
O narrador é uma das armas, uma das riquezas do romance, possibilitando ao autor dizer com maior clareza aquilo que a própria trama dos acontecimentos não for capaz de exprimir.
Tanto o ditirambo quanto o comos, pontos de partida respectivamente da tragédia e da comédia ocidental, o teatro propriamente dito só