A Onda

O filme demonstrou-se como um grande resumo de todas as forças que podem interferir na prática pedagógica, sobretudo as que se relacionam com a questão da violência simbólica com que as instituições escolares e seus operadores em máxima instância, os professores, realizam sua tarefa de construir o conhecimento e, talvez mais do isso, a disciplina; bem como uma caricatura dos mecanismos através dos quais uma determinada ordem se impõe. Decompondo os elementos constitutivos de determinadas matrizes ideológicas, não raro totalitárias, o filme "A onda" buscou ilustrar como comportamentos de massa podem ser replicados a partir do exemplo de uma amostra do tecido social. E não há melhor exemplo que a escola como ambiente social em miniatura (Durkheim) sobre o qual todos os papéis sociais e os valores podem ser observados em ação: A direção da escola, os professores, os alunos, as diretrizes educacionais e as propostas encobertas pelo cotidiano da aprendizagem; às vezes mais, o adestramento, o convívio e os conflitos dele resultantes; as tensões, as convergências e os desacordos; as incompreensões. Durkheim diz que é ilusão achar que podemos educar nossos filhos como pensamos como achamos que queremos. Submetidos a um sistema social, tanto a formação recebida domesticamente como a coerção social imposta, aí incluída a escolarização e suas diretrizes macro estabelecidas, as práticas educacionais, mesmo as domésticas, vão refletir todo um conjunto de valores inculcados ao longo das gerações que se sucedem construtoras essas do consenso que se expande e se adapta mais às suas necessidades orgânicas que às de seus indivíduos. Assim, a metáfora da escola como laboratório de uma experiência social, de memória trágica e já perpetrada em lugares diversos e sob formas alternativas de persuasão, mas essencialmente idênticas no doutrinamento de seus elementos manipulados, dirigidos, doutrinados, detalhou como o trato das ferramentas certas podem desencadear processos coletivos