A NOVA ERA DO RADIO
Eduardo Meditsch, Professor da UFSC
1997
Oralidade Virtual e Cultura Letrada Em países semiperiféricos do mundo ocidental, como no caso do Brasil, parcelas significativas da população têm passado da pré-modernidade à pós-modernidade sem que tenham transitado pela modernidade tal como foi vivida nos centros hegemônicos europeus ou anglo-saxões. Milhares de camponeses analfabetos, que há uma década não conheciam a eletricidade, hoje consomem rádio, TV e vídeo-filmes e inscrevem seus filhos em cursos de computação. Num contexto de tal complexibilidade é grande a dificuldade de isolar e distinguir uma oralidade primária que possa ter sobrevivido de formas combinadas com a tradição escrita e as técnicas mais recentes de registro da linguagem e do pensamento, desenvolvidas pela eletrônica. A partir de Adorno, Horkheimer e Benjamin, para quem o olho representava a forma da sensibilidade moderna enquanto o ouvido representava a arcaica, OLIVEN (1993:63) observa que "há uma tendência de considerar a oralidade como se fosse uma sobrevivência cultural que nos foi legada pelos primórdios da humanidade e a ser superada com o progresso da ciência e principalmente com a universalização da alfabetização."
Refletindo a cultura em que estão imersos, intelectuais de formação erudita, e até mesmo jornalistas formados nos meios impressos desprezam o rádio (e a TV) como veículos a priori incompatíveis com o pensamento autêntico. Em parte, este preconceito parece ter prevalecido nas concepções sobre o potencial do rádio como meio de comunicação: concebido como veículo de comunicação ideal para alcançar os analfabetos, e tendo a sua morte repetidamente anunciada (como participante do mesmo atraso identificado na oralidade de seu presumido público), ele, no entanto, sobrevive e, surpreendentemente, representa hoje um meio de informação preferencial para os setores mais letrados da