A moda
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Georg Simmel
(Berlim, 1 de Março de 1858 — Estrasburgo, 28 de Setembro de 1918)
O texto "A moda" ("Die Mode"), de Georg Simmel (Berlim, 1858 - Strasbourg, 1918), foi publicado, pela primeira vez, em Philosophische Kultur (Cultura Filosófica). Leipzig, Kröner, 1911.
A maneira que nos é dada de conceber os fenômenos da vida nos deixa sentir em cada ponto da existência uma pluralidade de forças; de modo que cada uma dessas forças se esforça, na verdade, para ultrapassar os fenômenos verdadeiros, quebrando contra a outra sua infinitude e se transformando em mera energia potencial e nostalgia. Em toda ação, mesmo na mais completa e fecunda, sentimos algo que ainda não conseguiu totalmente se expressar. Na medida em que isso acontece através da limitação recíproca dos elementos que se entrechocam, é em seu dualismo que, justamente, se manifesta a unidade total da vida. E a vida só ganha essa riqueza de possibilidades infinitas que completa sua realidade fragmentária quando cada energia interna se arroja para fora da medida de sua expressão visível, só assim seus fenômenos permitem presumir forças mais profundas, tensões mais insolúveis, guerra e paz de proporções maiores do que seus dados imediatos denunciam.
Esse dualismo não pode ser descrito em termos diretos, mas apenas nas oposições singulares que são típicas de nossa existência e que são apreendidas como sua forma última e conformadora. A primeira indicação é dada pela base fisiológica de nosso ser: ela requer tanto o movimento, quanto o repouso, tanto a produtividade, quanto a receptividade. Transportando isso
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IARA – Revista de Moda, Cultura e Arte – São Paulo V.1 N. 1 abr./ago. 2008
para a vida do espírito, somos inclinados, por um lado, à aspiração ao geral, assim como à necessidade de apreender o singular; aquele garante a nosso espírito de tranqüilidade, enquanto a particularização o faz se mover de caso para caso. E não é diferente na vida afetiva;