A Melancolia Do Mercosul
Em artigo, ex-ministro das finanças do Chile avalia por que Dilma Rousseff perdeu a chance de liderar um contrapeso moderado ao populismo da região http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/a-melancolia-do-mercosul 2014-08-07
Andrés Velasco
Dilma Rousseff, Nicolas Maduro e Cristina Kirchner se reúnem em Caracas, na Venezuela, para a cúpula do Mercosul (Jorge Silva/Reuters/VEJA)
Quando os líderes do Mercosul se reuniram em Caracas no final de julho, a arrogância habitual do imperialismo encheu o ar. Assim como o inconfundível cheiro de decomposição.
O Mercosul geralmente é descrito como um grupo comercial; na verdade, foi um arranjo político desde o início. O Brasil, a potência regional, sempre é visto como um contrapeso aos Estados Unidos em assuntos do hemisfério. Os governos peronistas na Argentina usam o Mercosul para fazer propaganda sobre integração ao mesmo tempo em que fazem pouco ou nada para remover reais entraves ao comércio. Com a entrada da Venezuela da Hugo Chávez, em 2006, a guinada em direção ao populismo tornou-se inconfundível. Como um ministro do governo chileno no fim da última década, lembro-me da frustração ao participar de reuniões do Mercosul (o Chile é membro associado). Eles são grandes em pose e em intermináveis discursos, mas limitados em acordos importantes sobre qualquer coisa.
Na Cúpula de 2006, em Córdoba, quando Chávez e Fidel Castro duelaram sobre quem poderia fazer o discurso mais longo e mais desconexo, os ânimos ficaram exaltados. A Bolívia, também governada por um populista carismático, estava interessada em desenvolver laços mais próximos. O Equador logo seguiu o mesmo padrão. E um punhado de países menores da América Central e do Caribe caiu na linha política em troca de generosos aportes de dinheiro e petróleo venezuelanos. Naquela época, os líderes do Mercosul poderiam reivindicar a oferta de um "modelo de desenvolvimento alternativo" para a região. Não mais.
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