a gratidão
A gratidão é a mais agradável das virtudes; não é, no entanto a mais fácil. Há prazeres difíceis ou raros, que nem por isso são menos agradáveis. A gratidão é um segundo prazer, que prolonga o primeiro, como um eco de alegria à alegria sentida, como uma felicidade a mais.
Podemos carecer de gratidão e há mérito em sentí-la. A gratidão é um mistério, não pelo prazer que temos com ela, mas pelo obstáculo que com ela vencemos. Para sentir gratidão, algumas vezes temos que ter superado uma grande dor, um grande tormento, e nem sempre se consegue, nem sempre é fácil superar esse obstáculo.
Não se da nada sem perda, por isso a generosidade se opõe ao egoísmo, e o supera. Mas e receber? A gratidão não nos tira nada, ao contrário, acrescenta. Ela não só prolonga a alegria, como faz o outro igualmente feliz, ao retribuir com a gratidão o que recebemos do outro, fazemos esse outro feliz também. A gratidão nada tem a dar, além do prazer de ter recebido.
Se a gratidão nos falta com tanta frequência, não será mais por incapacidade de dar do que de receber? Não será mais por egoísmo do que por insensibilidade? Ser grato, é dividir esse prazer que devo a você (que deu alguma coisa). Essa alegria é nossa. Essa felicidade é nossa.
O egoísta pode ( as vezes o egoísta não sente prazer em receber) regozijar-se em receber, mas seu regozijo é só seu, ele guarda só para si. Ou seja, se o mostra, é mais para fazer invejosos do que felizes: ele exibe seu prazer, o prazer que é só dele. Esquece que os outros têm algo a ver com isso.Que importância tem os outros?
Por isso o egoísta é ingrato: não porque não gosta de receber, mas porque não gosta de reconhecer o que deve a alguém, e a gratidão é esse reconhecimento, porque ele não gosta de retribuir, e a gratidão de fato, retribui com o agradecimento. Ele não gosta de partilhar, porque não gosta de dar.
O egoísta só conhece suas próprias satisfações, sua própria felicidade, pelas quais zela como um avaro por seu cofre. A