A Fenomenologia De Medard Boss
Boss (Spiegelberg, 1972; Boss, 1963; Rychlak, 1981), como Binswanger, é um psicanalista. Ele aceita e elogia as técnicas de Freud como efetivas quando empregadas para ajudar o paciente ouvir a si mesmo, mas rejeita a teoria de Freud sobre a natureza humana. Volta-se, então, para Jung impressionado tanto com a proposta do relacionamento face a face durante a análise, quanto com o respeito desta teoria para a dignidade humana. Contudo, Boss não aceita as posições de Jung sobre a interpretação de símbolos, e sobre a formulação da teoria dos arquétipos. Através de Binswanger, conhece o trabalho de Heidegger e se impressiona com as possibilidades desta filosofia para o estudo da psicopatologia. O relacionamento deste Autor com Heidegger foi, na verdade, intenso. Boss foi influenciado, não somente pela obra de Heidegger, mas também pela forte amizade que se desenvolveu entre os dois. Fizeram longas viagens juntos e Heidegger chegou a participar nos seminários de Boss em Zurich para psiquiatras e médicos (Boss, 1978/79).
Binswanger, é bom lembrar, preocupava-se primordialmente com o ser e sua relação com o mundo. Boss, ao contrário, preocupa-se com o ser e sua relação consigo mesmo. Esta preocupação é evidente na psicoterapia de Boss. Assim, o terapeuta não está interessado em interpretações, mas procura encorajar o paciente a ouvir a si mesmo.[p.130] Boss não reclama para si o desenvolvimento de uma nova terapia. Admite usar técnicas de Freud, mas numa concepção não naturalista e mecânica do homem. Sua principal preocupação é permitir a expressão do ser. A esta atitude, o Autor chama de "Daseinsanalytik". Com efeito, esta psicoterapia constitui-se num tipo de encontro onde, numa relação de permissividade, o paciente pode liberar sua experiência fenomenal. A "Daseinsanalytik" encoraja a expressão de sentimentos e usa o corpo como forma de comunicação. Para Boss, a memória e a expressão verbal não são suficientes para a libertação total do