A evolução do setor externo brasileiro
NOS ANOS 90 E SUAS CONSEQÜÊNCIAS:
UMA BREVE ANÁLISE
Prof. João Felippe Cury Marinho Mathias *
1. INTRODUÇÃO
A economia brasileira passou por profundas transformações nos anos 90, a partir de uma série de mudanças estruturais e institucionais que buscaram inserir novamente o país no cenário econômico internacional, do qual fora “excluído” nos anos 80, juntamente com outros países latino-americanos, por conta da crise da dívida externa1. Surgiu uma nova orientação das políticas, particularmente vinculada às idéias liberais, tendo enorme repercussão no setor externo brasileiro. Este sofreu uma profunda mudança nos anos 90, causada pela conjunção de alguns fatores, dentre os quais se podem destacar:
a) o cenário externo com abundância de capitais e o seu retorno para a América Latina;
b) a abertura comercial e financeira (a adesão aos princípios do Consenso de Washington);
c) a renegociação da dívida externa;
d) o Plano Real e a apreciação cambial.
As mudanças no setor externo afetaram, em particular, a evolução da balança comercial e o endividamento externo, porque, no início dos anos 90, o país apresentava superávits comerciais vultosos que se transformaram em déficits, o que gerou um déficit crônico nas transações correntes. Também no início dos anos 90, o Brasil iniciou a renegociação da dívida externa, que foi concluída em 1993. A partir de meados dos anos 90, por conta da necessidade de se financiarem os déficits em transações correntes, recorreu-se a enorme endividamento externo. A dívida externa aumentou, apesar do grande volume de amortizações e do crescimento das reservas.
Não é objetivo deste breve artigo fazer uma análise pormenorizada das causas das mudanças do setor externo, mas apenas evidenciar alguns fatos que visivelmente levaram a uma fragilização desse setor nos últimos anos 2. Os dados básicos fornecidos pelo balanço de pagamentos apontam para a necessidade crescente de recorrer-se aos mercados