A estrela - Vergilio Ferreira
J. Cândido Martins
Univ. Católica Portuguesa
1. VERGÍLIO FERREIRA: DO ROMANCISTA AO CONTISTA
Vergílio Ferreira (1916–1996) afirmou-se, no panorama da Literatura
Portuguesa do séc. XX, como o romancista mais representativo de certa concepção de romance, dominado por omnipresente temática existencialista. Revelouse também como um apreciável autor de ensaios e ainda como um persistente cultor do diário. No entanto, não descurou completamento outros géneros como o conto, embora a brevidade e contenção exigidas por esta forma de narrativa breve nem sempre se adeqúem à problemática filosofante e à cosmovisão recorrentes na sua criação literária1.
Em todo o caso, embora demonstrando a versatilidade narrativa do autor e sendo contaminado por algumas das obsessões temáticas que enformam a escrita romanesca, até quantitativamente o conto ocupa um lugar secundário na criação vergiliana. Aliás, com singularidades em relação a outros géneros e não esquecendo o estatuto subsidiário em relação ao romance, o lugar relativamente marginal do conto na escrita vergiliana é reconhecido pelo próprio escritor declara na apresentação dos Contos, quando expressamente declara: "Escrever contos foi-
* Texto publicado em: in Fernando Fraga de Azevedo (coord.), A Criança, a Língua e o Texto
Literário. Actas do I Encontro Internacional (CR-Rom), Braga, Universidade do Minho / Instituto de
Estudos da Criança, 2003, pp. 352-363; e Revista Portuguesa de Humanidades [Braga], vol. 7
(2003), pp. 345-357.
1 Em certo sentido e em face da razão aduzida, pode-se dizer que, proporcionalmente, há mais variedade temática nos poucos contos do que nos romances do autor. Isso mesmo é realçado por alguns críticos, quando aponta a condição humana como o tema recorrente da ficção romanesca, face à variedade das narrativas breves, como assinala Óscar Lopes (1982: 481-2):
"(...) os contos são muito mais puramente