A escrita cinéfila e militante de Serge Daney

A ESCRITA CINÉFILA E MILITANTE DE SERGE DANEY por Gabriel Coêlho
Serge Daney, crítico da Cahiers du Cinéma ao longo da década de 70 e fundador da revista Trafic, foi um dos mais importantes críticos de sua época, com grande influência de Jean-Luc Godard e figura importante na qual se inspirou Gilles Deleuze para a criação de seus dois livros sobre cinema.
A partir de seu contato inicial com a cinefilia, nas sessões de cinema promovidas por seu professor de latim, Daney construiu toda uma carreira baseada em sua relação não apenas com os filmes, mas com o próprio fazer cinematográfico, sobre o qual foi, também, um importante teórico.
O crítico desenvolveu, durante sua carreira, diversos textos que militavam pelo cinema, muitos dos quais foram publicados pelo próprio Daney em livros como La
Rampe. Sua escrita é sempre densa, misturada com um repertório pessoal em diversas áreas sempre muito bem articulado com ideias e insights sobre filmes, realizadores e o próprio cinema.
Um de seus textos mais lembrados e canonizados, “Le travelling de Kapo”, publicado na revista Trafic, traz uma abordagem do plano-sequência do filme do diretor italiano em conjunto com visões de Daney sobre outros realizadores (como Mizoguchi e
Pasolini) e relatos autobiográficos de sua relação com o meio audiovisual, que acaba se mostrando uma transcrição da própria história do cinema. O texto foi escrito inicialmente para ser o primeiro capítulo de seu livro Cinema-biography, a história de sua vida e seu contato com a cinefilia.
Serge Daney constrói seus textos de forma a usá-los como uma ferramenta de militância. Suas críticas não se limitam ao filme em análise, mas o filme é, na verdade, um ponto de partida para uma elucidação dos recursos fílmicos, da habilidade e qualidade das obras de diversos diretores e, principalmente, como mecanismos de reflexão sobre o fazer cinematográfico. Dotado de um humor ora sádico ora comovente, muitas vezes encontramos uma tentativa de autorreflexão a partir da