A escrava que não é Isaura
Esse texto maravilhoso de Mário de Andrade, foi publicado na revista Estética em 1925 e alguns trechos foram apresentado na Semana da Arte Moderna em 1922. É o primeiro tratado de poética moderna escrito aqui no Brasil. Esse ensaio tem por subtítulo: "Discurso sobre algumas tendências da poesia modernista" e é iniciado com uma fábula sobre a poesia: "Gosto de falar por parábolas como Cristo". O primeiro homem depois da criação de Eva, plagia Deus tirando da língua uma mulher (poesia). Essa mulher nua ficou no cimo de um monte. Adão, envergonhou-se da nudez e colocou-lhe uma parra. Depois passou Caim e cobriu-a com um "velocino alvíssimo" .Depois as gerações continuaram a subterrá-la de vestes e adereços. Daí um dia, passou um vagabundo, (meu querido) Rimbaud e chutou esse monte, fazendo-o desmoronar, mostrando todo o esplendor da Poesia nua... E é essa mulher "escandalosamente nua" que os poetas modernos começaram a adorar.
(E falando em Rimbaud, Mário de Andrade disse o mais importante parêntese da poesia brasileira: "Parêntese- não imitamos Rimbaud. Nós desenvolvemos Rimbaud. Estudamos a lição Rimbaud".)
“A Escrava que não é Isaura
Começo por uma história. Quase parábola. Gosto de falar por parábolas como Cristo... Uma diferença essencial que desejo estabelecer desde o princípio: Cristo dizia: 'Sou a verdade'. E tinha razão. Digo sempre: 'Sou a minha verdade'. E tenho razão. A verdade de Cristo é imutável e divina. A minha é humana, estética e transitória. Por isso mesmo jamais procurei ou procurarei fazer proselitismo. É mentira dizer-se que existe em S. Paulo um igrejó literário em que pontifico. O que existe é um grupo de amigos, independentes, cada qual com suas idéias próprias e ciosos de suas tendências naturais. Livre a cada um de seguir a estrada que escolher. Muitas vezes os caminhos coincidem... Isso não quer dizer que haja discípulos pois cada um de nós é o deus de sua própria religião. Vamos á