A crise do sistema internacinal
Rubens Ricupero
A SEGUNDA METADE deste título não me pertence. Peguei-a num debate organizado pelo jornal Le Monde no decurso do mês de agosto de 1996. A idéia provinha, por sua vez, de um artigo do editorialista americano William Pfaff, publicado primeiro no World Political Journal, depois traduzido por Commentaire, nº 74, durante o verão de 1996. Nesse artigo foi levantada a seguinte questão: "E se não houvesse nenhuma razão de pensar que o futuro será melhor do que o presente ou, pior ainda, melhor do que o passado?
Não era uma afirmação categórica, mas uma interrogação que escondia uma insinuação pessimista. Isso bastou então ao diário para lançar um debate com o título provocador: "O progresso, uma idéia morta?" O convite à discussão trazia no bojo outra pergunta: "Deve-se desistir de acreditar na idéia de progresso, essa idéia que, de Bacon a Condorcet, animou sucessivamente o pensamento da Renascença e da filosofia das Luzes antes de inspirar, ao mesmo tempo, aos séculos XIX e XX, o liberalismo e o marxismo?"
A redação justificava a reabertura da questão por uma dupla constatação: a da falência do "socialismo real", mas também a dos impasses do capitalismo liberal. De um lado, o perecimento da utopia socialista, mesmo sob a forma democrática, não soviética; do outro, as conseqüências negativas da globalização das economias. Os termos de referência tinham um caráter nitidamente político e não era por acaso que a discussão acontecia no dia seguinte ao das greves do outono de 1995, consideradas na França como a primeira grande onda de manifestações contra a globalização.
Como se esse tema já não fosse de uma ambição quase inatingível, o artigo introdutório ousava ampliar-lhe perigosamente a análise com a evocação de questões ainda mais complexas que são as da bioética e da ecologia. Efetivamente, as respostas, por volta de umas doze, ultrapassaram amplamente os limites do assunto, tendo