A classe operária vai ao paraíso
08/06/2010 | Publicado por Ricardo Giuliani na categoria Última Instância | Diversos
(Ricardo Giuliani Neto)
Resolvi passar pelos filmes guardados na estante do meu estúdio. Reencontrei Lulu, um operário italiano posto entre dilemas: comunismo e capitalismo, patrões e empregados, sindicatos e anarquistas, pelegos colaboracionistas e homens sinceramente defensores de um sistema não bem compreendido, mas benquisto. Os dramas de uma classe onde os diálogos mais profundos acontecem nas banquetas do manicômio, estão contados em “A Classe Operária vai ao Paraíso”.
Elio Petri põe Gianmaria Volonte, ao som de Ennio Morricone, no papel de Lulu. Obra de 1971 e, considerados os padrões do cinema atual e a cultura dominante na sociedade contemporânea, o argumento proposto parece anacrônico e fora de moda. Os avatares de Lulu Massa estão nos manicômios e nos muros imaginários.
O ritmo da obra política —produto extinto no “mercado cinematográfico” atual—, mostra-nos, a partir de um “operário-padrão” italiano dos anos 70, relações ainda sobreviventes no mundo do capital e do trabalho.
Lulu é a referência para o padrão de produtividade desejado; a medição da sua produção é paradigma à organização lucrativa da fábrica. Sim, as máquinas não podem parar; os padrões produtivos foram negociados com os sindicatos. Lulu mostra as reais possibilidades de cumprirem-se os “acordos” entre capital e trabalho.
Há razão para bonificações e multas, para ritmos e consciências. Lulu faz poupança e sua companheira deseja, algum dia, comprar um vison. Sonha o sonho das multidões que todos os dias transfixam os portões das fábricas concretas.
Os dias todos e os estudantes anarquistas nas portas das fábricas denunciando a prática de sindicatos tolerantes ao “sistema”. Gritam, agitam, “o sol ainda não nasceu e entras na fábrica donde sairás somente quando o sol estiver posto; hoje não verás a luz do dia!”. A frase atordoa a já espatifada cabeça de Lulu. Lulu já