A aurora da minha vida
Naum Alves de Sousa
MÃE: Eu vim trazer as moças mas parece que elas estão com medo.
DIRETOR: Duas moças desse tamanho com medo de vir para a Escola? A Escola não morde. Vem aqui dizer o seu nominho ao ouvido do titio, vem? Vem, gordinha.
MENINA 1: Eu não chamo gordinha.
DIRETOR: Então, como é que você se chama? Conta para o titio.
MENINA 2: Ele não é o tio da gente.
DIRETOR: Mas, de agora em diante, eu vou ser.
MENINA 1: Você não é irmão do meu pai.
MENINA 2: Nem da minha mãe.
MÃE: É tio só de brincadeira. Dá um beijinho no titio, dá?
DIRETOR: Se não quiser dar beijo, não precisa. Mas conta o seu nominho para o titio. (As meninas sacodem a cabeça, negando.) Como é mesmo? Parece que eu não ouvi direito. Ah, o gato comeu a língua dela.
MÃE: Comeu? Comeu nada. Conta para o titio. Você tem um nome tão bonito, conta.
MENINA 2: Não fala não.
MÃE: Eu te belisco, heim! (Belisca.)
MENINA 2: Ai!
DIRETOR: Que braveza. Que carinha enfezada. Dá uma risadinha para o titio, dá?
MENINA 1: Quer parar? Eu não estou achando a menor graça.
MÃE: O senhor me desculpe. O meu marido mima muito as duas. Em casa vocês vão ver uma coisa. É isso que dá a gente nunca bater em vocês.
MENINA 1: Nunca é? Até parece.
MENINA 2: Até parece.
MÃE: Em casa vocês vão ver uma coisa. A senhora pode ir para casa que eu mando as duas para a classe.
MÃE: Fiquem bem quietinhas e nada de malcriação, heim? (Um berreiro infernal. As duas esperneiam, agarram na perna da mãe, perdem o fôlego, ficam roxas.)
DIRETOR: Meu Deus do céu. Acho melhor é levar as duas para casa senão elas morrem…
MÃE: Bicho ruim não morre. Elas vão ficar. Fiquem bem quietinhas e nada de malcriação, heim? Estão ouvindo bem? Dá um beijinho?
MENINA 1: Não dou. Não dá também senão eu te bato depois.
MENINA 2: Eu também não dou. Senão ela me bate.
MÃE: Beija a mãe. Já.
DIRETOR: Beijem a mamãe. Ela tem que ir embora. Mostrem como são boazinhas.
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