Witty ticcy ray
Em 1885, Gilles De La Tourette, discípulo de Charcot, descreveu a espantosa síndrome que hoje leva seu nome. A “síndrome de tourette”, como passou imediatamente a ser chamada, caracteriza-se por um excesso de energia nervosa e uma grande produção e extravagância de movimentos e idéias estranhas: tiques, contrações espasmódicas, maneirismos, caretas, ruídos, imprecações, imitações involuntárias e compulsões de todo tipo, com um singular humor travesso e uma tendência a fazer palhaçadas e brincadeiras bizarras. Em suas formas “superiores”, a síndrome de tourette abrange todos os aspectos da vida afetiva, instintiva e imaginativa; nas formas “inferiores”, e talvez mais comuns, podem ocorrer pouco mais do que movimentos anormais e impulsividade, embora mesmo nestes casos haja um elemento de estranheza. A síndrome foi amplamente reconhecida e descrita nos últimos anos do século xix, pois essa foi uma época em que predominou uma neurologia abrangente, que não hesitava em conjugar orgânico e psíquico. Evidenciou-se para Tourette e seus colegas que essa síndrome era uma espécie de possessão por impulsos e ânsias primitivas, mas também que era uma possessão com uma base orgânica — um distúrbio neurológico bem definido (embora não descoberto). Nos anos imediatamente subseqüentes à publicação dos trabalhos originais de Tourette, foram descritas várias centenas de casos dessa síndrome — nunca surgindo dois casos exatamente iguais. Ficou claro que havia formas brandas e benignas e outras terrivelmente grotescas e violentas. Também se evidenciou que algumas pessoas eram capazes de “acolher” a síndrome de tourette e acomodá-la em uma personalidade adaptável, até mesmo se beneficiando da rapidez de pensamento, associação e invenção que adquiriram com a síndrome, ao passo que outros podiam de fato ser “possuídos” e praticamente não conseguir alcançar uma identidade real em meio à tremenda pressão e caos dos impulsos da síndrome. Havia sempre, como