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“ É numa sociedade democrática e pacífica que são maiores as probabilidades de se assistir ao desenvolvimento de um grande interesse pela argumentação. (...) A argumentação não decorre de uma verdade imposta, mas de uma convicção a estabelecer. Aliás, é mais uma questão de consenso do que certeza. Do mesmo modo, a argumentação não pode exercer-se num sistema ditatorial ou totalitário; de resto, ela só faz plenamente sentido numa sociedade igualitária ou, pelo menos, pluralista, em que as decisões são tomadas coletivamente. De igual modo, a argumentação exige a renúncia à força, à violência, ao confronto bélico. É certo que só há argumentação quando há desacordo, mas ela impõe uma resolução do desentendimento por meio da discussão, do debate discursivo, em vez do confronto bélico.”
(P. Breton, G. Gautier)
“Advento da Polis, nascimento da Filosofia; entre as duas ordens de fenómenos, os vínculos são demasiado estreitos para que o pensamento racional não apareça, nas suas origens, solidário das estruturas sociais e mentais próprias da Cidade grega.
(…) De facto, é no plano político que a Razão, na Grécia, primeiramente se exprimiu, se constituiu e se formou. A experiência social pôde tornar-se, entre os gregos, o objeto de uma reflexão positiva, porque se prestava, na cidade, a um debate público de argumentos.
(…) Assim se destacou e se definiu um pensamento político, exterior à religião, com o seu vocabulário, os seus conceitos, os seus princípios, as suas teorias. Este pensamento marcou profundamente a mentalidade do homem antigo; caracteriza uma civilização que não deixou de considerar a vida pública como o coroamento da atividade humana. Para o grego, o homem não se separa do cidadão; a phrónesis, a reflexão, é o privilégio dos homens livres que exercem correlativamente a sua razão e os seus direitos cívicos.
(…) Quando nasce em Mileto, a Filosofia está enraizada nesse pensamento político cujas preocupações fundamentais traduz e do