Vida e Obra de José de Anchieta
EDUARDO DE ALMEIDA NAVARRO
Anchieta foi, no dizer de Sílvio Romero, o mais antigo vulto de nossa história intelectual. Na pobreza material e espiritual do Brasil dos primeiros tempos, ele tornou-se, em muitos aspectos, um pioneiro: o primeiro poeta, o primeiro teatrólogo, o primeiro gramático, o primeiro humanista do Brasil.
Anchieta nasceu em 1534, em San Cristobal de La Laguna, uma cidade situada na ilha de Tenerife, que faz parte das Ilhas Canárias, localizadas bem perto das costas da África, na altura de Marrocos. Essas ilhas haviam sido dominadas pela Espanha no final do século XV. Seu pai estava na Ilha de Tenerife havia pouco tempo. Ele tinha
vindo dos países bascos da Espanha e tinha parentesco com a família de Inácio de
Loyola, o fundador da maior ordem religiosa e maior organização educacional do mundo, a Companhia de Jesus, criada em 1540.
Os países bascos e outras regiões da Espanha revoltaram-se em 1519 contra o rei Carlos V da Espanha e o pai de José de Anchieta, Juan de Anchieta, participou das revoltas contra o rei. Sufocado o movimento, ele teve de sair da Espanha para não sofrer perseguições do governo e foi para as Ilhas Canárias em 1522 para recomeçar sua vida. Em 1531 casou-se com dona Mencia de Clavijo y Llarena, que era descendente dos conquistadores das ilhas. Dona Mencia era uma viúva que já tinha dois filhos de seu primeiro casamento.
O menino José, desde cedo, teve contato com a língua basca falada por seu pai e também com a língua guanche, falada pelos primitivos habitantes da ilha de
Tenerife. Os guanches ainda estavam na ilha e viviam como empregados ou escravos. O próprio nome Anchieta é basco e significa laguna, naquela língua. É curioso observar que José de Anchieta nunca afirmou ser espanhol ou brasileiro, mas sempre disse ser basco, o que nos leva a acreditar que ele falava essa língua.
Seu pai havia prosperado bastante desde que chegara a Tenerife. Assim, o menino José