UMA TEORIA POL TICA NORMATIVA
É imperioso reconhecer, por conseguinte, que Marx efetivamente possui uma teoria política. Teoria esta que, ressalte-se, permeia não apenas suas obras de juventude, mas desdobra-se e reatualiza-se ao longo de todo o conjunto de seus escritos. E mais do que isto, vale a pena perceber também que a teoria política de Marx é, antes de tudo, uma teoria normativa (Abensour, 1997:22 e Rubel, 2000:101). Quando os textos políticos são acessados, quando se aprende a identificar a essência política não apenas neles, mas em toda a extensão da obra de Marx, percebe-se mais do que nunca como ele dirige o seu discurso para o futuro. Marx está falando para um dia que ainda não chegou, mas que ele deseja – e acredita – chegar. Ao criticar a política – sobretudo a teoria da política de autores contemporâneos a ele (como é o caso de Hegel) e a prática da política da Alemanha e da Europa de sua época – Marx afirma como ela deve ser, como ela deve vir a ser, e mostra como sua teoria pode contribuir para que isso aconteça.
Quando encaramos o pensamento de Marx como o devir da política, ou seja, quando percebemos seu caráter normativo, conceitos como revolução, comunismo, emancipação e abolição do Estado, por exemplo, passam a ser fundadores de uma nova maneira de conceber a teoria política, e mais especificamente de fazer teoria política normativa. Ora, não é apenas porque a normatividade passou a ser associada a um atributo desenvolvido para dar conta das características liberais da teoria política contemporânea que ela não pode ser já identificada em um autor do século XIX. Com efeito, Marx escrevia à frente de seu tempo, desenhando o mundo que julgava – e sonhava – um dia encontrar. Aqui, a teoria mais uma vez se encontra com a prática. O dever ser com o ser. O devir com o agir. A teoria de Marx clama por intervir diretamente na realidade e, de fato, hoje podemos avaliar que muitos de seus desígnios foram cumpridos não apenas no plano da práxis, mas