Uma menina num momento caótico
Piggle apresentada por seus pais
O primeiro contato com o psicoterapeuta Winnicott foi por carta, pois Piggle e sua família moravam longe de Londres. A carta descrevia um pouco do comportamento da pequena Gabrielle: “ O senhor tem tempo para ver nossa filha, de dois anos e quatro meses de idades? Ela tem preocupações que a mantém acordada à noite e que,às vezes parecem afetar sua vida em geral.
É difícil descrevê-la quando bebe. Ela sempre pareceu uma pessoa muito formada, dando a impressão de dispor de grandes recursos internos. Seu aleitamento ocorreu de maneira fácil e natural; o mesmo com o desmame. Foi alimentada no seio materno durante nove meses. Desde muito cedo demonstrou sentimentos de paixão em relação ao pai e certa arrogância em relação à mãe.
O nascimento de sua irmãzinha quando ela estava com vinte e um meses, parece ter-lhe causado uma transformação. Ela se aborrece e fica deprimida com facilidade. A angustia e o ciúme manifesto da Irmã não duraram muito tempo, não obstante a grande intensidade de sua angústia. Com relação à mãe, cuja existência ela antes parecia quase ignorar, agora demonstra maior afeição e as vezes também maior ressentimento. Tornou-se claramente mais reservada com o pai.
Surgiram fantasias que a fazem gritar por nós até altas horas da noite. A primeira: Ela tem um papai preto e uma mamãe preta. A mamãe preta vem atrás dela à noite e diz: “Onde estão os meus mamás”. As vezes, a mamãe preta coloca-a dentro da privada. A mamãe preta, que mora em sua barriga e com quem se pode falar pelo telefone, está sempre doente, sendo difícil tratá-la.
A segunda fantasia, que começou mais cedo, refere-se ao “bebê-car”. Todas as noites, ela pede, repetidamente: “ me fala do bebê-car”.
Desta vez, entretanto, pensamos em recorrer ao senhor, pelo receio de que ela venha a se acomodar e a se tornar insensível a sua angústia, como única maneira de enfrentá-la.”
Início da Análise.
Winnicott tinha 67