Uma Cidadania Incompleta: “ausência” política das mulheres ?
Marlise Matos1
O exercício dos mais diversos campos da política, numa situação de quase ausência das mulheres, constitui-se hoje num grande desafio ao projeto democrático e em um grande impasse para os estudos de gênero e feministas. Todavia, cabe igualmente ressaltar que este não parece ainda se constituir em ponto realmente crítico para as análises políticas e da ciência política de uma forma geral.
Conforme podemos evidenciar no registro da literatura pertinente (Pateman,1993; Okin,1995; Norris, 1997, Inglehart & Norris, 2000), algumas das concepções que nortearam nossas democracias ocidentais definiram espaços e construíram/conquistaram direitos assimetricamente para homens e mulheres. No século XX, para combater as discriminações, as mulheres se organizaram enquanto sujeitos políticos em quase todas as partes do mundo, tendo como pontos de partida suas vivências de privações, segregação e opressões dos mais distintos matizes. Neste século também foram criados e fortalecidos os movimentos feministas e de mulheres, nas mais diversas formas, tonalidades, ritmos e articulações locais, nacionais e internacionais.
Este presente trabalho refere-se a uma breve parte teórica que, por sua vez, integra projeto de pesquisa mais amplo e em andamento, financiado pelo CNPq e levado a cabo pelo NEPEM e o DCP/UFMG. A pesquisa em tela tematiza a representação política feminina, através de estudo detalhado, em uma primeira etapa, da Assembléia Legislativa de Minas Gerais e depois da Câmara dos Deputados. A pesquisa “A Política na Ausência das Mulheres: um estudo sobre recrutamento, trajetórias/carreiras e comportamento legislativo de mulheres”, já se incumbe de recortar os principais objetivos do estudo. Em última instância a referida pesquisa visa refletir profunda e criticamente sobre os impactos e conseqüências que a situação de uma quase ausência das mulheres brasileiras do espaço da representação