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ESTADO E SOCIEDADE NA SUPERAÇÃO DAS DESIGUALDADES RACIAIS NO BRASIL
ORGANIZADORAS
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CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DO SILÊNCIO: REFLEXÕES SOBRE O RACISMO E O ANTIRRACISMO NA SOCIEDADE BRASILEIRA
ÁTILA ROQUE
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CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DO SILÊNCIO: REFLEXÕES SOBRE O RACISMO E O ANTIRRACISMO NA SOCIEDADE BRASILEIRA
ÁTILA ROQUE1
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Oito anos passados da “Conferência das Nações Unidas Contra o Racismo, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância”, realizada em Durban, África do Sul, em setembro de 2001, e a sua atualidade não poderia ser mais evidente, e o debate sobre os seus temas mais acalorados. No Brasil, muita coisa mudou de 2001 até hoje, mas – apesar dos muitos e significativos avanços na luta contra o racismo – permanecem ativos os mecanismos produtores e reprodutores da discriminação das populações negras, especialmente aquela que atinge em cheio jovens pobres e
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Historiador, Membro do Colegiado de Gestão do INESC (Instituto de Estudos Socioeconômicos)
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CAMINHOS CONVERGENTES: ESTADO E SOCIEDADE NA SUPERAÇÃO DAS DESIGUALDADES RACIAIS NO BRASIL
mulheres. Este pequeno artigo é um testemunho pessoal e imperfeito de quem acompanha esse debate a partir de um lugar particular, o de militante e dirigente de uma ONG “não negra”.2
O PAÍS DO RACISMO SEM RACISTAS
Estivemos, na verdade, ao longo da última década, participando de um processo fundamental de ruptura de um dos principais – talvez o mais importante – pilares de sustentação do racismo no Brasil: o silêncio. Silêncio tão conhecido de negros, mulatos, morenos, afrodescendentes ou qualquer outra denominação atribuída à tonalidade da pele – que sofrem ao longo das suas vidas com as consequências do racismo. Sofrem com a baixa estima quando crianças ou adolescentes pela a ausência de referências positivas nos meios de comunicação – que levavam, como acontecia com a minha geração, os jovens negros a dormirem com toucas feitas com as meias finas