Uma breve história sobre o carro no Brasil, pesquisa FAPESP.
[ SOCIOLOGIA ]
Fé na
MODERNIDADE
e pé
A polêmica na tábua relação que
o Brasil criou com o automóvel Carlos Haag
reprodução do livro caricaturistas brasileiros 1836-1999
O
automóvel tinha “acabado” de chegar ao Brasil, em 1892, com os irmãos
Alberto e Henrique Santos-Dumont, quando, poucos anos depois, em
1903, se registrou um dos primeiros acidentes automobilísticos do país, envolvendo o abolicionista José do
Patrocínio e seu amigo Olavo Bilac, para quem ele emprestara seu carro recém-chegado da
França. Após tentar aprender a dirigir por alguns quilômetros e deixar muitos transeuntes em pânico, o poeta parnasiano “enfiou” o carro numa árvore. “Isso só aconteceu porque eu não fui batizado. Sem religião e com essas ruas vagabundas o progresso não é possível”, teria exclamado Patrocínio. A história é representativa do como se deu a introdução do automóvel no Brasil, transformado em força motriz do progresso nacional e fonte de poder e hierarquização para poucos durante décadas. “Para as elites, o carro era a ferramenta perfeita para conseguir o progresso com ordem. O automobilismo, nesse contexto, criaria um Brasil moderno e sem conflitos. Era um ícone do crescimento de um Estado democrático, desenvolvido e moderno”, explica o historiador e brasilianista
Joel Wolfe, da Universidade de Massachusetts,
Armherst, autor do livro recém-lançado Autos and progress: the brazilian search for modernity
(Oxford University Press).
“Para alcançar isso, esse grupo não se preo cupava com as realidades sociais, mas com a maximização do potencial do carro como veículo do progresso e da civilização. Havia todo um discurso simbólico que colocava o carro como uma representação moderna de um espírito empreendedor do passado, das bandeiras e dos bandeirantes, que promoveria uma espécie de comunhão com as nações modernas, em especial os Estados Unidos”, afirma o historiador Marco Sávio, professor da Universidade