Um manifesto contra a cantada
Com 9 anos, comecei a andar pra lá e pra cá, ia a pé pra casa da minha prima, do meu pai, da minha vó e ás vezes ia ao mercado comprar alguma coisa ou por créditos no celular. Mas, o que começou como uma breve caminhada em um curto trajeto, em poucas semanas se tornou um caminho perigoso e incômodo. Ainda não entendo porque motoqueiros paravam para mexer comigo, me deixando aterrorizada. Caminhoneiros buzinavam sem parar, motoristas quase pulavam do carro após buzinas insistentes e gritos como “que delícia hein”, “quer carona?”, “gostosaaaa”. 12 anos e um short curto pareciam causar todo esse frisson. Homens que poderiam ser meus irmãos, tios, pais, avós… E mesmo assim insistiam nessa rotina NOJENTA. A solução era sempre ir com uma blusa mais larga, se arrumar menos. Mas mesmo assim continuava acontecendo. E confesso que hoje, 2 anos depois, esse tipo de coisa ainda acontece.
Infelizmente, a gente se acostuma com esse tipo de situação. Porque você ouve desde cedo que está SE colocando em risco ao escolher uma determinada roupa, maquiagem, penteado ou simplesmente pelo fato de ser do sexo feminino. Eu nunca entendi porque eu devia ser menos vaidosa para não atrair coisas que não queria dos homens. Mesmo assim, sem muita vaidade e tudo mais, continuou acontecendo.
Mulheres até mesmo grávidas, com barrigas de 7 meses, ainda ouvem na rua coisas como “nossa, que gravidinha! ainda dá pra meter gostoso”. Vocês acham que uma mulher de saco cheio dos efeitos do barrigão e dos hormônios loucos precisa ou quer ouvir algo do tipo? Mas não, as grávidas também parecem pedir para receber cantadas.
Não saí em nenhum dia de carnaval e nem vi meus amigos durante esse período. Não porque quero dar uma de intelectual por não gostar de carnaval, mas meu PAVOR de multidões se agravou depois desse último episódio. Pensar em uma multidão com homens alcoolizados se dirigindo a mim como se eu também quisesse fazer parte da festa pessoal deles me deixa