Um homem, uma mulher, para não falar do garçom.

UM HOMEM, UMA MULHER, PARA NÃO FALAR DO GARÇOM.
Personagens: Homem, Mulher, Garçom.
Entra o garçom
GARÇOM: (para o público) Num boteco qualquer. O Garçom, que sou eu, a personagem e não eu, o ator, limpa a mesa. A minha única função na peça é: presenciar a cena de um crime!
O homem entra cumprimenta o garçom
HOMEM: Zé, trás uma cervejinha bem gelada, que hoje estou muito feliz (para o público) Duvido que continue neste estado de alegria, se soubesse que daqui a pouco viria alguém aqui acabar com a minha vida... Minha vida não, a da minha personagem. Porque ela está muito perto de morrer. Mas a minha personagem ainda mantém a ilusão de que permanecerá viva por muitos anos. O meu futuro assassino, que eu sei quem é, mas a minha personagem não, entrará por aquela porta daqui a alguns segundos. (o garçom serve a cerveja)
A mulher entra por detrás do homem
MULHER: (para o garçom) Onde é que está ele? (O garçom apenas aponta). Eu estou fula da vida! Eu não, a minha personagem. Eu atriz, estou muito feliz por ser protagonista, pela primeira vez, em uma peça. Que parece ser ruinzinha. Já a minha personagem está prestes a matar o marido. Eu atriz, jamais faria uma tolice dessas. Também pudera o autor não é lá essas coisas. Nunca escreveu uma peça simples, conseguisse revelar a complexidade da condição humana!
A mulher se aproxima do marido
HOMEM: O que? Você por aqui, que surpresa! Ô Zé, traz mais um copo! (para o público) Ela nem sonha que eu estou tendo um caso.
MULHER: (para o público) Ele nem imagina que eu sei que ele está tento um caso.
GARÇOM: (para o público) Eu sei o que os dois sabem... Mas não posso demostrar por palavras... Nesta peça, eu não tenho falas... E isso tem me deixado bastante irritado. Eu ator, e não a minha personagem. Todos os dias, tenho que permanecer em cena, durante todo o espetáculo, sem dar um pio se quer! É de lascar! Já para minha personagem está tudo bem, tanto faz. Ela é o garçom mesmo. E os garçons apenas servem seus clientes.