Três gramáticas de referência para os estudos do português
TRÊS GRAMÁTICAS DE REFERÊNCIA PARA OS ESTUDOS DO PORTUGUÊS
CLAUDIO CEZAR HENRIQUES1 (UERJ e ABRAFIL)
RESUMO: A língua, em face do resto da cultura, é o resultado dessa cultura, ou sua súmula, é o meio para ela operar, é a condição para ela subsistir. A frase é de Mattoso Câmara Jr. em conferência proferida no Rio de Janeiro na década de 50. Tomo-a por empréstimo para introduzir o que pretendo dizer neste trabalho sobre três das estudos de nossa língua: Carlos Henrique da Rocha Lima, Evanildo Bechara e Celso Ferreira da Cunha. PALAVRAS-CHAVE 1. INTRODUÇÃO “Nós somos todos assim... Eu sou assim... Tu és assim... Dançam pronomes pessoais: Eu, ele, tu, eles, nós, vós... Que somos nós?... Pronomes pessoais.” Assim, Mário de Andrade questionava a pessoa humana, com base na estrutura gramatical, e concluía pela igualdade entre todos. Pronomes pessoais são democráticos: podem ser usados em pé de igualdade por todos. Cada um é um eu, qualquer conjunto de “eus” é um nós. Já outro, o pronome de tratamento, é diferente. É autoritário: seleciona e
É com essa referência metalinguística intertextual que Nelly Carvalho começa seu artigo “Quem somos nós?”, onde trata dos usos das formas e pronomes de tratamento, no Brasil e em Portugal. Faz Nelly comentários esclarecedores acerca dos valores semânticos, das situações e contextos em que são empregadas expressões como vocemecê, você e tu / vossência / sitora (= senhora doutora) / senhora, dona e senhora dona / esposa, mulher e senhora / esposo, marido e homem / doutor e senhor doutor / mamãe e senhora / primo e doutor / sinhá e senhora / madrinha / dona, moça e menina / compadre e comadre / seu moço / seu vigário / vós e vosmecê... E conclui: “Os usos tornam possível estabelecer a ligação entre os aspectos sociais e a estrutura verbal”, ajudando a responder a questões que de outro modo poderiam ser ignoradas. Para ela, à medida que se aprofunda a compreensão da
1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Brasil /