Tribos Urbanas
Os escritos de Simmel têm inspirado até hoje muitos autores a pensar sobre vários temas relativos ao modo de vida urbana, afinal, como dizem nossas avós, "os tempos são outros" e os "modos não são os mesmos" nas grandes cidades. Instituições tradicionais, como a Igreja, a família e o Estado, disputam com a indústria do consumo e com a mídia a produção de referenciais de identificação. Esse contexto de fragmentação e multiplicação de referenciais morais, políticos, religiosos e estéticos tem levado alguns antropólogos e sociólogos interessados em compreender a realidade das sociedades ocidentais a trabalhar com a noção de "tribos urbanas".
Um dos mais renomados cientistas sociais que olharam de perto o fenômeno das tribos urbanas é o diretor do Centro de Estudos do Atual e do Cotidiano da Universidade de Paris V, Michel Maffesoli, autor, entre outros, de um livro chamado O tempo das tribos (1987). Para ele, o "neotribalismo" constitui o paradigma mais adequado para interpretar a sociedade contemporânea, que se caracteriza pela combinação entre práticas arcaicas e desenvolvimento científico, entre princípios "tribais" e novas tecnologias. O sucesso de histórias como O Senhor dos Anéis e Harry Potter, em que o místico e os "efeitos especiais", o mágico e o tecnológico se encontram, seriam, segundo Maffesoli, sinais sociológicos de que os sujeitos urbanos estão buscando um "reencantamento" para suas vidas.
Identidade ou identificação?
É interessante notar que, para Michel Maffesoli, o Brasil é um dos países em que melhor se pode observar as dinâmicas do neotribalismo, porque entre nós o tradicional e o tecnológico se combinam o tempo todo. De fato, no cenário das grandes cidades brasileiras, a todo momento surgem novas "tribos" (wiccas, emos, patricinhas, pitboys), enquanto outras praticamente desaparecem (darks, grunges) e outras, ainda, sobrevivem há bastante tempo