Trabalhos
Rousseau relata, na referida obra, que é a linguagem que diferencia os homens dos animais [1]. Ela, além de ser expressão do pensamento humano, pode dividir-se basicamente em duas formas: através dos gestos (artes pictóricas, símbolos, gesticulações etc.) ou da articulação de diferentes sons (a voz). Ambos – os gestos e os sons – podem ser detectados também nos animais, mas estes seguem uma determinação natural, pois a linguagem dentro de uma espécie, aparentemente, não muda.
Os homens, por outro lado, desenvolveram o que Rousseau chama de linguagem de convenção [2] (gestos e palavras), que, embora sirva muitas vezes de empecilho para a sua comunicação, possibilita que haja progresso na língua, já que a mesma não está delimitada pela predeterminação natural, mas é desenvolvida e aprimorada ao longo dos tempos. Por conseguinte, Rousseau passou a especular sobre o motivo pelo qual o homem desenvolveu a sua linguagem de convenção, já que ela é unicamente dele.
Com efeito, tanto os animais quanto os homens possuem praticamente as mesmas necessidades físicas. Por isso, estas não poderiam ser a causa determinante da linguagem de convenção. Rousseau, contudo, apresenta uma faculdade que é, de certa forma, própria do homem: os sentimentos [3]. Estes possibilitaram o desenvolvimento daquela linguagem, pois as primeiras línguas certamente tinham o intuito de falarem de sentimentos, como os usados no ato de expulsar um intruso, de repelir uma injusta acusação, ou seja,