Trabalhos
Das causas, geração e definição de um Estado
Os homens (que amam naturalmente a liberdade e o domínio sobre os outros) ao viver nos Estados procuram sempre o cuidado com sua própria conservação e com uma vida mais satisfeita, a felicidade. Os mesmos desejam sair da mísera condição de guerra, quando não há uma força capaz de mantê-los em estado de respeito, forçando-os, por medo do castigo, ao cumprimento de seus pactos. A arte de fazer ao outro o que queremos que nos façam se perde por ser contrária as nossas paixões naturais, as quais nos tendem a prática do orgulho, da vingança e de coisas semelhantes. Se não nos for instituído um poder que garanta nossa completa segurança, cada um confiará apenas em sua própria força e capacidade como proteção de si. Com um pequeno numero de homens não é capaz de se garantir essa segurança, pois, quando os números são pequenos basta um também pequeno aumento de algum dos lados para que haja vantagem de um deles. Devemos nos comparar ao inimigo que tememos, só assim pode-se saber o quão devemos ser eficazes. Em um grupo ou uma multidão não pode haver opiniões não equivalentes, pois se cada um seguir seu apetite individual, um há de atrapalhar o outro, ao invés de ajudar. As abelhas e as formigas são criaturas que vivem socialmente no bem comum. A humanidade, portanto não é capaz de fazer o mesmo; primeiro, que os homens, constantemente, se envolvem em competição pela honra e pela dignidade, o que não ocorre com essas criaturas; segundo, que entre esses seres não há distinção entre bem comum e bem individual; terceiro, as criaturas não fazem o uso da razão, não percebendo e nem julgando erros em suas vidas. Quarto, como as criaturas não fazem o uso da linguagem, elas não são influenciadas pelas outras. Já os homens fazem o que acham bom ou mal entre si; quinto, injúria e dano não são distinguidos pelas criaturas irracionais; sexta, enquanto o acordo vigente entre esses seres é natural,