Trabalhos
Mas, Sophie Barthes, roteirista e diretora, não é tão ingênua. Em vez de se filiar ao estilo Kaufman de escrever (cujos personagens percorrem um labirinto mental), ela fica mais próxima do surrealismo de Buñuel e do sarcasmo arrasador de Andersson. Apesar da falta de senso lógico das situações, Sophie não sofre da arrogância do cinema de Kaufman.
O que primeiro chama a atenção em Almas à Venda é a originalidade por trás de uma história boba. Paul Giamatti interpreta a si mesmo, um ator na faixa dos 40 em plena crise, que lê um artigo na revista The New Yorker sobre uma clínica que extrai almas, liderada por Dr. Flinstein (David Straithairn), e resolve ir lá checar.
Um momento, vamos voltar a fita. Sim, uma clínica que extrai almas! Parece coisa de ficção científica, mas Sophie trata a situação com naturalismo, como se seu personagem tivesse ido ao mercado comprar biscoito. Na tal clínica que extrai as almas condoídas, descobrimos uma complexa estrutura: miseráveis russos vendem a alma por uns trocados e elas são traficadas, por meio de mulas, para os Estados Unidos. É como se o tema do tráfico de órgãos que Stephen Frears abordara em Coisas Belas e Sujas caísse nas mãos de um cientista maluco.
Só por esse bom começo, Almas à Venda já seria digno de atenção. Felizmente, ele tem mais a oferecer. A segunda coisa que torna o filme uma experiência interessante é a escolha pelo absurdo como motor que deflagra os acontecimentos. Todos ao redor de Paul