Trabalho
Maria Lucia Toledo Moraes Amiralian*
Instituto de Psicologia da USP E-mail: mltma@usp.br
Resumo: este artigo propõe-se a refletir sobre a construção do Eu de crianças com cegueira congênita a partir da teoria winnicottiana do amadurecimento. Para Winnicott, a natureza humana é uma questão de psique-soma em constante interação; o ser humano é essencialmente psicossomático, sendo o corpo o primeiro a chegar e a elaboração imaginativa das funções corpóreas o elemento constitutivo e enriquecedor da vida psíquica. Essa concepção da natureza humana parece ser a mais esclarecedora para a compreensão do desenvolvimento e da construção do eu das crianças com cegueira congênita; crianças que chegam ao mundo com uma constituição orgânica significativamente diferente, que as conduzem por caminhos peculiares em seu processo de percepção e amadurecimento. Muitas dificuldades são apontadas na descrição do desenvolvimento dessas crianças: passividade de ego, ausência de interesse por objetos, atrasos na aquisição de capacidades, desinteresse por brincadeiras e verbalismo. Comportamentos considerados semelhantes aos de crianças autistas. Acreditamos que, a partir da teoria winnicottiana do desenvolvimento, muitas dessas vicissitudes podem ser compreendidas e alguns procedimentos terapêuticos indicados. Palavras-chaves: construção do eu; cegueira congênita; teoria do amadurecimento; psicanálise de Winnicott.
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Psicóloga formada pela PUC de São Paulo, psicanalista, dra. em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo, docente do Instituto de Psicologia da USP Coorde. nadora do LIDE/IPUSP diretora do Atendimento Especializado da Fundação Dorina , Nowill.
Natureza Humana 9(1): 129-153, jan.-jun. 2007
Maria Lucia Toledo Moraes Amiralian
Abstract: This article proposes a reflection upon the ego development of children with congenital blindness through maturation theory. For Winnicott the human nature is a matter of