trabalho
O texto literário, especialmente a poesia, cria diferentes formas de sentir e perceber o mundo, que exaltam às emoções humanas e promovem a experiência das sensações. Portanto, a leitura literária não envolve apenas a articulação de conhecimentos linguísticos, mas a experimentação sensorial, pela qual passa o corpo do receptor, isto é, ocorre a interação do leitor com o texto, num exercício de percepção poética do mundo.
E nesse sentido que se diz, de maneira paradoxal, que se pensa sempre com o corpo: o discurso que alguém me faz sobre o mundo (qualquer que seja o aspecto do mundo de que ele me fala) constitui para mim um corpo – a – corpo com o mundo. O mundo me toca, eu sou tocado por ele; ação dupla, reversível, igualmente válida nos dois sentidos. (ZUMTHOR, 2007, p.77)
Ao articularmos a voz do poeta à nossa própria voz, para atribuir significação global a um texto, estamos realizando uma performance, a qual segundo Zumthor, é responsável por transformar um texto, sequência de enunciados, em obra. A voz, mesmo mentalmente, evidencia aspectos da tessitura poética, como as aliterações, as assonâncias, a alternância das sílabas fortes e fracas e as pausas. Tais recursos podem passar despercebidos se não ganharem a materialidade da voz, e comprometerem o prazer estético que emana das sensações vivenciadas pelo corpo.
As palavras resistem, elas têm espessura, sua existência densa exige, para que elas sejam compreendidas, uma intervenção corporal, sob a forma de uma operação vocal: seja aquela da voz percebida, pronunciada e ouvida ou de uma voz inaudível, de uma articulação interiorizada (ZUMTHOR, 2007, p. 77).
A percepção efetiva do ritmo exige a performance, pelo fato de abranger os significantes sensoriais referentes à leitura e provocar em nosso corpo um estado de êxtase. A visão, a audição e até mesmo o tato estão envolvidos no ato de ler; por isso, ocorre em nosso corpo uma revelação do aspecto do mundo