Trabalho
A infância nômade me impediu de fincar raízes e estabelecer laços de relacionamento mais duradouros com pessoas ou lugares, mas me proporcionou o contato com outras línguas e culturas e estimulou um autoconhecimento e uma autonomia que, anos depois, se revelariam decisivos na minha trajetória empresarial.
Entre uma cidade europeia e outra, minha família se fixou no Rio de Janeiro até perto de meu 12º aniversário. Morávamos em Ipanema. Estudei na Escola Cruzeiro, na Lapa. Ali aprendi a falar alemão, o que mais tarde também me ajudaria muito no mundo dos negócios.
Do Rio fomos morar na Suíça. Ficamos um ano por lá. Eu não falava uma palavra de francês e, ainda assim, fui colocado num semi- -internato. Meus irmãos e eu fomos “jogados aos leões”. O choque foi enorme. Eu entrava na sala de aula e não entendia nada.
Por sorte, a parada seguinte foi Dusseldorf, quando a Vale Internacional, comandada por meu pai, se instalou na Alemanha. Ficamos quatro anos na cidade e depois seguimos para Bruxelas.
Minha vida era do colégio interno para casa. Quase não saía. Meus companheiros eram meus irmãos. Sentia falta do Brasil, do Rio de Janeiro. Era onde queria estar, e este sentimento de amor pela minha pátria se fortaleceu nos anos em que vivi no exterior. Muita gente foi obrigada a viver fora de seu país por motivos políticos. Meu exílio era de outra natureza, mas nem por isso deixei de sentir sempre uma enorme saudade do Rio e do Brasil.
Uma convicção se forjou em mim desde muito cedo: a de que você cresce com as dificuldades. Ou “estresses”, como prefiro chamar.
A asma foi o primeiro de uma série. Ela se manifestou por volta de meus 11 anos. É uma doença que provoca falta de ar e causa ansiedade terrível. Minha mãe entendeu que a cura estaria em me colocar dentro de uma piscina. Acho que continua a ser o mais recomendável.