Trabalho
TEXTO 1
Ler para quê?
Comecemos por uma possível definição, nem a melhor, nem a única. Em sentido amplo, leitura é um processo interativo de construção de sentido(s) entre quem produz (autor/autores) e quem recebe (leitor/leitores), intermediados pelos dados do texto, nas mais diversas possibilidades e formas de linguagens: oral, escrita, icônica, gestual, sinestésica. Ler é atribuir sentido ao que nos rodeia e nos constitui enquanto sujeitos individuais e coletivos, portanto, seres sociais em permanente mutação, interagindo com a alteridade. Em âmbito estrito, pensa-se a leitura relacionada aos códigos da escrita, dependente das normas que regem o mundo grafocêntrico. Essa é a leitura sistematizada pela escola, divisora de águas entre alfabetizados e analfabetos em suas diversas classificações, entre o mundo letrado e o não letrado, entre o cidadão que tem acesso a bens culturais e aquele indivíduo que permanece à margem. Nesses dois circuitos ainda se desenha, hoje, o quadro social brasileiro. Ler para quê? Uma forte razão: para redesenhar, com outro perfil, o quadro acima, por exemplo. Os objetivos da leitura, porém, ultrapassam esses limites. Lê-se por paixão, por sede, por prazer. Lê-se por necessidade pessoal e intelectual de sentir-se pertencente ao gênero dos pensantes em constante ebulição. Lê-se por deleite e fruição estética. Lê-se para dialogar à distância com aquele que respondeu antecipadamente às nossas interrogações, inquietações e dúvidas. Lê-se para reafirmar propósitos e crenças ou, ainda, para guardar esperanças. Lê-se para buscar informação, para investigar, para descobrir o avesso do que transparece. Lê-se para rir, para emocionar-se, para tranquilizar-se. Lê-se para discordar e contra-argumentar. Lê-se para melhor escrever. Lê-se para encontrar afinidade com o desejo do outro. Lê-se para chamar o sono e atrair belos sonhos. Lê-se para passar o tempo e relaxar os nervos. Lê-se para conhecer o passado, compreender o presente e