Trabalho sobre Kant
Como este deve ser já o quase qüinquagésimo trabalho ao qual o professor se debruça para corrigir, tentamos, perigosamente, afastar-nos do óbvio e repetitivo, na esperança, até, de trazer algum entretenimento, ou grande aborrecimento, ao professor (qualquer coisa diferente de um suspiro de “mais um trabalho”).
Tentamos, então, seguindo a indicação de alguns dos idealistas posteriores, trazer às claras uma distinção interna do próprio Kant, ele mesmo o filósofo das distinções, uma que até mesmo o unifica em algum lugar do futuro: entre sua letra e seu espírito.
Fichte, Shelling e Hegel propõem terem tomado para si o espírito da filosofia kantiana. Propondo uma certa velhacaria em Kant maior do que talvez a que ele disponha explicitamente, em sua letra, poderia ser que Kant teve realmente que esconder seu espírito em sua letra, com uma boa causa, salvar, ainda que por pouco tempo a filosofia; espírito esse, guardado para que futuras mentes seguissem, depois de garantido o espaço da especulação no mundo científico, e ansioso por resultados, do modernismo, o verdadeiro caminho da filosofia de sempre.
Sendo assim, a quem se dirigia a letra de Kant? Ora, àqueles mesmos cientistas angustiados por resultados imediatos que queriam pôr a esquecimento a grande-mãe filosofia para fazer surgir com mais grandeza sua nova ciência.
Mas já nos adiantamos demais aqui, neste que é mais um estudo que uma apresentação completa, um desenvolvimento e um aprendizado, mais do que uma exposição de saberes. Desenvolvimento e aprendizado, entretanto, um tanto, por demais, livres. E confessamos, desde já: prepare-se para desagradar-se (é sempre melhor começar assim) pois nas partes mais climáxicas, esbarramos em nossa fraqueza pueril, our wit’s end.
Há certas idéias das quais a razão utiliza para dar unidade ao exercício empírico do entendimento. A essas idéias não se encontra objetos relacionados – objetos concretos do mundo sensível. Pode-se até criar para tais