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Texto 1
Os aspectos biográficos da vida de Caeiro poderão contribuir para explicar a simplicidade que Caeiro, para si, reclama. Vendo-se como um simples "guardador de rebanhos", nãoadmira que prefira a objectividade e a naturalidade próprias dos mais simples. Privilegia os órgãos dos sentidos, principalmente a visão e a audição, porque são estes que lhe permitem uma percepção exacta das coisas que existem na natureza e com ela e nele evoluem sem precisarem de uma explicação metafísica ou intelectual.
Para ele, só há a realidade, por isso o tempo não existe e, consequentemente, não faz referência ao passado, nem ao futuro, mesmo porque todos os instantes reflectem a unidadedo próprio tempo.
O facto de se interessar apenas por aquilo que as sensações captam faz dele um sensacionista. Adere espontaneamente às coisas e identifica-se com elas, interrogando-se sobre oporquê de se procurar o mistério das coisas e afirmando não saber mais que o rio ou a árvore ("O mistério das coisas, onde está ele?/(...) Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?/ E eu,que não sou mais do que eles, que sei eu disso?"). Por isso vai recusar o pensamento e rir daqueles que pensam ("Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas, / Rio como um regato que soa a fresco numa pedra.").
Estas afirmações de Caeiro reforçam o carpe diem, filosofia de vida que adopta o fruir da realidade, de uma forma livre e despreocupada, não vendo nas coisas nenhum sentidooculto, reduzindo-as à percepção que delas tem, à sua forma, à sua cor e à sua concretez.
Diz-se contrário à filosofia e apologista dos sentidos ("Eu não tenho filosofia: tenho sentidos..."), mas a verdade é que cria a sua própria filosofia e um pensamento incomum, umavez que, ao recusar o pensamento, teve de pensar nas razões que o levaram a fazê-lo.
De qualquer modo, após a leitura dos poemas de "O Guardador de Rebanhos", parece não restarem dúvidas quanto ao seu pendor simplista e