textos literarios
Jazia no chão, sem vida,
E estava toda pintada!
Nem a morte lhe emprestara
A sua grave beleza…
Com fria curiosidade,
Vinha gente a espiar-lhe a cara,
As fundas marcas da idade,
Das canseiras, da bebida…
Triste da mulher perdida
Que um marinheiro esfaqueara!
Vieram uns homens de branco,
Foi levada ao necrotério.
E quando abriam, na mesa,
O seu corpo sem mistério,
Que linda e alegre menina
Entrou correndo no Céu?!
Lá continuou como era
Antes que o mundo lhe desse
A sua maldita sina:
Sem nada saber da vida,
De vícios ou de perigos,
Sem nada saber de nada…
Com a sua trança comprida,
Os seus sonhos de menina,
Os seus sapatos antigos!
Texto Não Literário No Hospital da cidade de Marabá, em plena Amazônia, uma menina da qual se conhece apenas o primeiro nome, Rosália, dá entrada na emergência. Ela está em coma, tem as vestes rasgadas, o rosto dilacerado [...] Rosália tem apenas 13 anos. Ela havia sido aliciada por dois homens a entrar clandestinamente no garimpo de Serra Pelada. Em troca de algum dinheiro, iria manter relações sexuais com dois garimpeiros. Isso fora o combinado.
Mas os fatos se sucederam de forma diferente. Ao entrar no garimpo – onde até então não era permitida oficialmente a entrada de mulheres – Rosália foi forçada a manter relações sexuais com mais de 30 homens, num só dia. Completamente desfigurada, em coma e com violenta hemorragia interna, ela foi levada às pressas para o hospital de Marabá. Não houve jeito. Quatro horas depois, a pequena adolescente morria, deixando atrás de si mais do que a história de uma criança prostituída e sexualmente violentada na Amazônia brasileira.
A história de Rosália, uma menina das ruas de Marabá, registrada pelo posto policial da cidade, no fundo é idêntica a dezenas de milhares de outras meninas e meninos do Brasil entregues à prostituição.