Texto A Cultura Na Era Da T Cnica
Segundo Simmel, o emprego do conceito de cultura requer um cuidadoso esclarecimento do seu sentido, ou, pelo menos, uma limitação da sua polissemia. Devidamente entendida, sustentou, a cultura é um processo de mediação entre as criações objetivas da espécie e a vida interior do indivíduo. O patrimônio material e espiritual da humanidade tanto quanto os conhecimentos e refinamentos manifestados pelo indivíduo não bastam para defini-la. O conceito remete antes ao esforço de formação pelo qual um sujeito modifica a si mesmo no sentido de uma condição mais elevada e perfeita mas, ao mesmo tempo, à necessidade de que essa formação seja feita por meio de certos bens que pertencem a sua exterioridade.
No célebre ensaio sobre o conceito de cultura, o filósofo nota que os conhecimentos, condutas e maneirismos de um homem só podem ser provas de sua cultura na medida em que constituem elementos representativos de uma condição realmente vivida como estágio de aperfeiçoamento individual. A pessoa culta por certo possui uma condição interior, mas uma condição é a conquistada mediante a apropriação adequada de certos bens, a cujo conjunto damos o nome de cultura. O conceito não deve ser usado onde a conduta social e o manuseio dos bens revelam-se puramente convencionais e são, por assim dizer, ligados ao sujeito por uma ordem externa.
"A cultura significa a forma de perfeição individual que só pode consumar-se por meio da incorporação ou utilização de uma figura suprapessoal que, de algum modo, está além do sujeito" (SIMMEL, 1988: p. 213)
A verdadeira significação do conceito de cultura concretiza-se onde a subjetividade particular encontra e se apropria de valores que não são em si mesmos subjetivos. O sujeito se cultiva quando consegue inserir em seu progresso particular o sentido que o processo criador da espécie concretiza em bens. O especialista, por mais competente que o seja, não revela cultura,