Texto Narrativo
No texto narrativo, os factos são vividos por personagens num determinado lugar e tempo. Além disso, há um narrador que assume duas perspectivas básicas diante do texto, agindo como uma personagem ou como um mero observador. Leia o texto abaixo:
O Coveiro
Millôr Fernandes (adaptado)
Ele foi cavando, cavando, cavando, pois sua profissão - coveiro - era cavar. Mas, de repente, na distracção do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da cova e não conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que sozinho não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enrouqueceu de gritar, cansou-se de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardias. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, não se ouviu um som humano, embora o cemitério estivesse cheio de pipilos e coaxares naturais dos matos. Só pouco depois da meia-noite é que vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos aproximaram-se. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia:
- O que é que há?
O coveiro então gritou, desesperado:
- Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível!
- Mas, coitado! - condoeu-se o bêbado - Tem toda razão de estar com frio. Alguém lhe tirou a terra de cima, meu pobre mortinho!
E, pegando a pá, encheu-a e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.
Reflexão: Nos momentos graves é preciso verificar muito bem a quem pedimos ajuda.
Comentário:
No texto, o narrador não participa dos factos é, portanto, um mero observador. Narra na terceira pessoa e situa a personagem - o coveiro - num determinado espaço, uma cova, fazendo com que ele se relacione com outra personagem - o bêbado - num determinado tempo, depois da