Texto M1 Mercado Financeiro
São Paulo - Um dos símbolos dos “anos dourados” que o Brasil viveu na década passada foi o real forte. No auge de nossa festa, em outubro de 2010, precisávamos de apenas 1,65 real para comprar 1 dólar — então enfraquecido pela crise financeira de dois anos antes. Aquela cotação dava a sensação de que estávamos perto da riqueza.
Viajar para o exterior e consumir produtos importados eram escolhas ao alcance de um número de consumidores nunca antes visto na história deste país. Com esse passado recente tão vivo na memória, os brasileiros agora experimentam a sensação inversa: a de que nossas opções estão minguando na mesma medida que a moeda nacional rola ladeira abaixo.
No fechamento desta edição, em 9 de março, a cotação do dólar em relação ao real havia chegado a 3,13. Ou seja, quase a metade do poder de compra que nossa moeda tinha no ápice virou pó. E, dizem os analistas em uníssono, a desvalorização não só veio para ficar como tende a prosseguir nos próximos anos. “O país tentou ir além do que era possível e agora precisa fazer um ajuste à realidade via câmbio”, diz Marcelo Kayath, diretor de renda fixa e variável do banco Credit Suisse.
O galope do dólar neste início de ano — foram 18% de valorização nos primeiros 68 dias de 2015 — pode dar a impressão de que o ajuste começou há pouco. Na verdade, a moeda americana vem se apreciando frente ao real desde 2011. Há por trás desse movimento diversos fatores.
Um deles é mundial: a economia americana entrou em recuperação e, já há algum tempo, ensaia um aumento de juros, o que provoca a atração de dinheiro para os Estados Unidos e valoriza o dólar. As outras razões são locais.
Desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu o primeiro mandato, a economia brasileira só perde fôlego. Interferências em diversos setores e contas públicas em deterioração tornaram-se constantes. Até o ano passado, o governo atuava para conter a oscilação da moeda: desde maio de