Texto de época
Ereda: ...Eu fui a única testemunha do crime.
Henrique (silêncio)
Ereda: Agora já sabes todo o horror daquela noite.
Henrique: Se continuas com mentiras, vais provocar o meu ódio.
Ereda: Em quem podes acreditar se não for em mim?
Henrique: Se tudo isso fosse verdade, terias me falado antes.
Ereda: Faltou-me coragem.
Henrique: Mas hoje tiveste.
Eeda: Por isso me sinto aliviada. Dividi contigo esse peso. Os dois tramam a morte do nosso pai.
Henrique: O pai enforcou-se no celeiro, é isso que me contaram. Não posso acreditar no que me revelas.
Ereda: Estou sozinha. Como na noite da execução, estou só.
Henrique: Não suportas a nossa mãe. Queres que ela parta, que fique longe daqui.
Ereda: Quero mais do que isso. Quero que se faça justiça.
Henquique: Nossa mãe nunca chegaria ao crime.
Ereda: Homem nenhum sobre a terra conhece as mulheres.
Henrique: Então me diz: porque guardaste segredo por tanto tempo?
Ereda: Eras um menino ainda: Como confiar tanto horror a uma criança?
Henrique: E nosso tio?
Ereda: Com o amante de nossa mãe, eu pude sozinha, catando as ervas mais perigosas. Mas com ela não posso.
Silêncio.
Ereda: Preciso de ti.
Henrique: Nada nos vai devolver a terra perdida.
Ereda: Mais do que a terra é o pai roubado do nosso convívio.
Henrique: Temos que deixar este lugar. Deixemos a mãe aqui com seus mortos.
Ereda: Um dos mortos é nosso pai. Impossível abandoná-lo para sempre.
Henrique: Me diz, de onde tirar a coragem necesária?
Ereda: Me perguntas o que não sei responder.
Henrique : Melhor abandonar os teus planos.
Ereda: Morrerei com eles.
Silêncio.
Ereda: Quem mata o marido com tanta fúria, não recua ante mais nada.