texto carlos rodrigues
Quando alguns cientistas sociais começaram a chamar a atenção para a dimensão social do fato folclórico, alguns folcloristas mais tradicionais protestaram. Uns, apenas pelo fato de que os cientistas sociais (coisa que um folclorista também é) pareciam estar invadindo o seu território de trabalho. Outros, porque a pesquisa das relações sociais do folclore parecia um ato profanador. A história da ciência conhece casos semelhantes: a prova de que a Terra é redonda; a demonstração científica de que a Terra não é o centro do universo, mas um pequeno planeta que gira em torno a uma estrela de 5a grandeza; a descoberta do inconsciente humano; a teoria evolucionista. É a reação que sempre há quando um novo modo de abordagem emerge e sugere novos modos de 97 ver, investigar e compreender.
No entanto, não foi sequer um cientista social contemporâneo, mas um folclorista de velha escola quem fez o aviso de que passar da coleção de descrições sucessivas para o domínio de explicações compreensivas exigia uma abordagem sociológica urgente. Maria Isaura
Pereira de Queiroz, uma socióloga paulista, aluna de
Roger Bastide, um dos renovadores da pesquisa da cultura brasileira, afirma o seguinte:
“Diz-nos Florestan Fernandes que foi Amadeu Amaral, entre nós, quem primeiro reclamou a abordagem sociológica como uma nova maneira de focalizar os fatos folclóricos, estimando que o significado destes só poderia ser plenamente compreendido quando fossem estudados mergulhados no contexto sócio-cultural de que fazem parte; embora as condições da época não permitissem ao autor levar avante a investigação folclórica em tais moldes, teve o mérito de apontar uma direção nova à pesquisa” (Maria Isaura Pereira de
Queiroz, Sociologia do Folclore — A Dança de São
Gonçalo no Interior da Bahia).
O próprio sociólogo Florestan Fernandes defendeu com ênfase uma abordagem do folclore brasileiro, não só do ponto de vista das relações