Texto carlos drummond de andrade
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, emgeral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levantam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva eir pregar em outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos pausse faz uma canoa. O que não impedia que, nesse entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passasse a manta e azulava, dando às de vila-diogo. Os mais IDOSOS,depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar a fresca; e também tomava cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animátografo, e mais tarde ao cinemátografo, chupando balas dealteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisas de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem COM OS burros n’agua. (...) Carlos Drummond deAndrade, Poesia e prosa, Rio de Janeiro, Nova Aguiar, 1988
Vocabulário
Mademoiselle (francês) = senhorita
Janotas = elegantes, bem vestidos
Pé-de-alferes = namorador
Debaixo do balaio = esconderLevantam tábua = levar um fora
Tirar o cavalo da chuva = desistir de alguma coisa
Pregar em outra freguesia = comentar com outra pessoa
Tirar o pai da forca = apressado para algo
Não caiam decavalo magro = não se deixa enganar
Jogavam verde pra colher maduro = usar uma informação pequena pra conseguir outra mais